O custo oculto dos portos parados

Os portos brasileiros refletem o ritmo da economia nacional e, infelizmente, ainda operam abaixo do potencial necessário para sustentar um país que depende fortemente do comércio exterior. A lentidão nas operações, a burocracia e a baixa integração entre sistemas logísticos geram um custo silencioso que afeta toda a cadeia produtiva e compromete a competitividade do Brasil.

O peso da ineficiência
Chamado de demurrage, o valor pago pelo uso adicional de contêineres é um dos principais sintomas da ineficiência portuária. Segundo o relatório Demurrage and Detention Benchmark 2023, da Container xChange, o custo médio dessas taxas no Brasil pode ultrapassar US$ 180 por contêiner por dia. Empresas perdem milhões de reais anualmente com atrasos que poderiam ser evitados com melhor coordenação entre terminais, armadores e órgãos reguladores.

Impacto econômico e estrutural
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos logísticos representam cerca de 12,6% do PIB brasileiro, contra 8% em países desenvolvidos. Essa diferença reflete gargalos crônicos de infraestrutura e gestão, especialmente nos portos de Santos, Paranaguá e Rio Grande, que concentram mais de 60% das exportações nacionais.

Essas ineficiências vão além da perda financeira. O atraso médio no desembaraço aduaneiro, que ainda supera 48 horas em terminais de grande porte, reduz a previsibilidade das cadeias de suprimentos e afeta setores estratégicos como agronegócio, energia e siderurgia. Cada hora parada no cais representa capital imobilizado e perda de produtividade.

Modernização e futuro
A solução passa por um novo paradigma de gestão portuária, baseado em digitalização e análise de dados. Sistemas de automação documental, rastreabilidade em tempo real e inteligência artificial podem antecipar gargalos e otimizar a liberação de cargas. Modelos adotados em Singapura e Roterdã mostram que a integração entre órgãos aduaneiros e operadores reduz custos e amplia a eficiência sem demandar grandes obras físicas.

Melhorar a performance portuária brasileira é uma urgência econômica. Cada ponto percentual reduzido nos custos logísticos representa bilhões de reais liberados para investimento produtivo e inovação. A modernização da infraestrutura e o uso de tecnologias inteligentes não são apenas medidas operacionais, mas decisões estratégicas para garantir competitividade e crescimento sustentável.

Thiago Machado é gerente de supply chain, especialista em comércio exterior e logística internacional, com 13 anos de experiência em multinacionais dos setores de energia, siderurgia e agronegócio. Membro do Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP) e certificado em Supply Chain Strategy pela Rutgers University

By Aracaju Agora

Você Pode Gostar